Gaston Tshabalala: O internacional angolano de alma salgueirista


“Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”. Provavelmente, Gaston Tshabalala nunca leu este excerto do poema "Pedra Filosofal", mas foi precisamente para ir atrás de um sonho, que o jovem avançado do Salgueiros deixou Angola, com 18 anos. Muitos dirão que é fácil deixar tudo, quando se tem pouco, ou nada. Mas a verdade é que não é tão fácil como isso. “Vim para Portugal sem saber de nada, ou com quem vinha lidar, não conhecia ninguém, onde ia ficar, o que ia comer. Mas fiz a minha oração, pedi a Deus que me abençoasse, que me ajudasse no meu caminho e me protegesse. Graças a Ele senti-me sempre seguro e fui-me rodeando de gente boa, que me foi ajudando. Não posso reclamar de ninguém, tive sempre boa gente comigo. Por isso digo que me sinto feliz. Só sinto mesmo falta da família e da namorada”, atirou um jovem com um olhar tranquilo e de bem com a vida. “Ainda não consegui ir a Angola por causa do Covid, mas eles também entendem que fui à luta por um sonho meu, de trabalho e de outras oportunidades”, acrescentou.

Podia pensar-se que hoje, com 21 anos, Tshabalala é mais um angolano como tantos outros, que viram em Portugal uma tábua de salvação e se atiraram à aventura, como milhares de refugiados fazem diariamente para atravessar o Mediterrâneo rumo às costas europeias. Mas desengane-se quem pensar assim. “Tenho os meus objetivos, quero jogar e concentrar-me na minha carreira, não sou de andar por aí de cabeça no ar, à deriva. Tenho o meu foco. Guardo as minhas ambições para mim. Mas quero crescer, aprender, ouvir as correções dos treinadores e continuar a evoluir para tentar subir na carreira”, explicou.

Para trás ficam testes no Sporting de Braga e uma curtíssima experiência no Freamunde, que a pandemia amputou, até aparecer o Salgueiros. “Tenho noção que estou num grande clube. Do que vejo, esta direção quer muito regressar ao que o clube já foi no passado. Não vai ser fácil, mas essa é a nossa luta. Acima de tudo, quero aprender, aproveitar o que tenho de bom e o que me ensinam para evoluir como jogador e no Salgueiros encontrei um bom ambiente, fui bem recebido e sinto-me muito bem aqui”, comentou.

Ao mudar-se para Paranhos, Tshabalala percebeu rapidamente que a concorrência também ia subir de nível, mas não se atrapalhou com isso, para quem o acompanha foi apenas mais uma oportunidade para se lhe descodificar o caráter: “É dura, mas é boa e quando se enfrentam as dificuldades da concorrência agora, quer dizer que lá mais para a frente vamos ter coisas boas a acontecer. Vim preparado. Sabia que nada ia ser fácil para mim em Portugal. Mas é a minha natureza, gosto de ganhar, não gosto das coisas fáceis, quando as coisas são fáceis desconfio muito, penso que me estão a dar com uma segunda intenção.

Quando as coisas se conquistam sabem melhor, duram mais, damos mais valor”. Nem admira que como jogador se reveja em Cristiano Ronaldo, Neymar e Mbappé, “porque têm uma história de vida que é um exemplo, conseguiram chegar onde estão por mérito próprio. O Lukaku também tem uma história um pouco parecida com a minha, deixou África para apostar tudo na Europa, temos de respeitar essa coragem”. Outros, como Mateus, antigo avançado do Boavista, e Valdinho, que o acolheu em Braga, foram importantes e são como irmãos. “Ajudaram-me e deram-me muitas dicas”, reconheceu.

Mas há mais: Gaston Tshabalala espera que ao ter apostado em Portugal as portas da seleção angolana continuem bem abertas para dar seguimento às quatro internacionalizações que conta aos 21 anos. “Estreei-me na seleção sub-20 angolana com 16 anos e nesse mesmo ano joguei na seleção principal e participei nos últimos jogos de apuramento para o CAN. Ainda estava no Freamunde, quando me ligaram para ir à seleção olímpica, mas não fui, porque estava difícil de sair por causa do Covid. Mas sei que eles estão atentos à minha carreira e que me seguem de perto, porque vão ligando para saber de mim”, contou.

Aos 21 anos, Tshabalala sabe que tem um longo caminho pela frente: “Tenho sonhos que espero concretizar, mas ainda falta muito para chegar onde quero e sei que se um dia concretizar esses sonhos outros vão aparecer a seguir, tenho sempre objetivos novos para alcançar, porque na vida ninguém te dá nada”.