“Só me vou sentir realizado se subir!”


A ARC São Lourenço do Douro é a única equipa das competições seniores de futebol da Associação de Futebol do Porto que venceu todos os seus jogos desde o início da temporada. Sensivelmente a meio do campeonato da Divisão de Honra (Série 2), os verdes e brancos somam 16 vitórias e 48 pontos, a que se acrescenta uma vitória na terceira eliminatória da Taça da AF Porto, em Arcozelo (0-3). O emblema do concelho do Marco de Canaveses chega ainda a esta fase como a melhor defesa da Divisão de Honra (Série 1 e 2), com apenas sete golos sofridos, e o segundo melhor ataque, com 36 golos apontados, superado apenas pelo Inter de Milheirós (38 golos), líder da Série 1.

O treinador da ARC São Lourenço do Douro, Pedro Monteiro, preferiu repartir os louros com todos, começando nos seus adjuntos, Pedro Oliveira, João Ferreira e Cristiano Teixeira, passando por André Pinto, coordenador e treinador da equipa Sub-23, criada recentemente, ao presidente António Pereira e ao seu vice e irmão, Vítor Pereira, explicando que todos contribuíram para aqui chegar.

A poucas horas de defrontar o FC Vilarinho, em jogo a contar para a quarta eliminatória da Taça da Associação de Futebol do Porto, Pedro Monteiro levantou um pouco o véu sobre a fórmula que tem conduzido a equipa a fazer um percurso imaculado esta temporada.

Como se sente a liderar a única equipa do futebol sénior da AF Porto que só sabe ganhar desde o início da época?

Bem, feliz com isso. Mas não estou realizado, porque o nosso objetivo é outro e só me vou sentir realizado se o atingir, se subir. Não estamos preocupados em ganhar os jogos todos até ao final da época, nem é esse o objetivo. Vamos tentar chegar à fase de subida, depois teremos mais seis jogos para decidir isso e isso sim, é uma preocupação e um momento para o qual temos de estar preparados. Para já, tenho de estar gratos a toda a Direção, à estrutura e aos jogadores.

Como se chega a 16 vitórias no campeonato em 16 jornadas?

Tudo começa com um impasse no início da época. Pensávamos que íamos disputar a Elite e quando começamos a construir o plantel, fomos buscar jogadores que nos dessem algumas garantias para jogar nessa divisão. Mais tarde soubemos que não seria esse o nosso destino e uma parte dos jogadores que tínhamos convidado quiseram seguir para outros projetos. Alguns quiseram ficar, porque gostaram do projeto que lhes tinha sido apresentado, gostaram das pessoas e começaram-se a identificar com aquilo que lhes tinha sido passado. Depois vem o trabalho, o apoio da Direção e as vitórias sucessivas, que fizeram a equipa crescer, jogo após jogo, até chegar aqui. Conseguimos formar um grupo de trabalho mais experiente, unido, com uma dinâmica de grupo mais positiva e tudo isso tem contribuído para chegarmos onde estamos.

Para si, que já conhecia o contexto, isso ajudou-o a queimar etapas no trabalho que vem desenvolvendo?

Já tinha estado aqui quatro anos, na formação e na coordenação. Quando não tinha clube vinha aqui regularmente, sempre fui seguindo o clube. Mas o conhecimento do contexto ajudou-me, acima de tudo, a dizer o sim, porque nos últimos anos o clube evoluiu imenso. Quando sai daqui, por exemplo, o clube nem tinha equipa sénior, só para se ter uma ideia. Mas aceitei logo o projeto, porque conhecia as pessoas. Mas sim, conhecia bem os jogadores e a equipa. Definimos quem ia ficar e tentamos perceber o que nos faltava e fomos desenvolvendo a construção do grupo. Fomos trabalhando em conjunto com a direção.

Como se convenceram os jogadores a ficar, depois de saberem que não iam disputar a Elite?

Com honestidade nas conversas que tivemos com os jogadores, quando lhes apresentamos o projeto. Sempre lhes dissemos que isso podia acontecer e eles confiaram em nós e foram-se sentindo envolvidos no projeto.

Concorda que, em termos de qualidade, a equipa está sobredimensionada para jogar nesta divisão?

Temos ouvido muito isso. A equipa não tem um grupo muito extenso, se calhar uns 13 jogadores que cabiam em qualquer plantel da Divisão de Honra e alguns na Elite. Mas temos 23 jogadores, uma dezena deles vem da nossa formação, ou já cá estava antes e continuaram.

Podemos falar de uma espécie de um ano zero da Elite?

Pode ser encarado assim, mas não é assim que eu penso. Com os resultados conseguidos, à posteriori, podemos falar assim, mas o mais difícil e mais gratificante, tem sido ver que, por exemplo, no último jogo, aos 15 minutos, já estávamos a ganhar por 2-0. Isso só acontece, porque os jogadores são sérios e fazem bem o seu trabalho, querem mais e não se contentam com aquilo que está feito.

Começa-se a ganhar quando se sofre menos golos e o São Lourenço tem 7 sofridos…

O nosso setor defensivo tem qualidade, embora o processo defensivo seja partilhado pela equipa, como um todo. Mas sofrendo menos, a equipa torna-se mais confiante, mais sólida, mais confortável no jogo. Estivemos seis ou sete jogos sem sofrer golo.

Mas também lidera uma equipa que marca muitos golos (36). Têm argumentos que os outros não têm, ou advém do tal sobredimensionamento?

Acredito que não seja só isso, claro que alguns têm qualidade para jogar acima desta divisão, mas temos os nossos princípios e os nossos jogadores têm liberdade na frente. Depois, com o prazer que eles sentem e a qualidade que têm ajuda a que se marque muitos golos. Repare que até agora fizemos todos os jogos sem um ponta de lança de raiz… É um indicador que a equipa toda tem capacidade para fazer o golo, é um processo coletivo, que não nos deixa dependentes de um jogador para chegar ao golo.

Mas ainda assim conseguem ter um avançado com 13 golos apontados… um terço dos golos quase?

O que quero dizer, com a tal liberdade para criar no ataque, é que o nosso jogo não é formatado para servir este ou aquele jogador, em particular. Acontece que ele [Juca] consegue criar situações e concretizar mais do que os outros.

Não receia o “cansaço de ganhar”? Como é que se contorna isso?

Não estamos cansados ainda. A nossa preocupação tem sido manter a equipa com os pés assentes na terra, ter sempre objetivos, ambição e que levá-los a querer sempre mais. Estamos a falar de uma equipa que não gosta de sofrer um golo, que quer ter bola e sente-se que os jogadores estão muito implicados nisto.

Mas pode ser perigoso, quando ganhar se torna rotina, não?

Uma das nossas preocupações tem sido manter os jogadores com índices competitivos elevados, concentrados, competitivos, comprometidos, mesmo que seja contra uma equipa que está no fundo da tabela, exigindo que entrem com a mesma seriedade com que entraram na primeira jornada. Podiam iludir-se, facilitar, mas temos tido esse trabalho e essa preocupação. É uma questão de sensibilidade, leitura da situação e tato, somados às experiências que se fui tendo em outros contextos. Temos de ser coerentes com o grupo e saber lidar com eles de forma a perceberem.

Houve algum adversário que já lhes tenha testado os limites, esta época?

Já defrontamos adversários de qualidade. Mas que conseguissem contrariar a nossa equipa, não. Mas já tivemos adversários que nos deram trabalho.

O jogo da Taça da AF Porto, contra o Vilarinho, pode ser esse teste?

Espero que seja um bom jogo. A nossa equipa gosta desses jogos. Mas já tivemos adversários que nos puseram dificuldades, atenção que isto não está a ser um passeio.

Mas pode ser o teste mais importante da época?

Pode ser o Vilarinho, pode ser o Salvadorense, que vamos defrontar a seguir, o jogo vai ter a sua história. Teoricamente, o Vilarinho é capaz de ser o adversário que vamos defrontar, em jogos oficiais, com mais capacidade. Se vai ser o nosso maior teste não sabemos. Só posso falar daquilo que aconteceu e em alguns jogos já tivemos de vestir o fato-macaco.

E está à espera de o voltar a vestir?

Estou à espera de um jogo difícil, até porque estamos a ter algumas limitações. Se calhar eles também as terão, mas faz parte no contexto em que estamos.

Que valor tem a Taça da AF Porto esta época, no vosso percurso?

Neste momento, estamos a valorizar bastante a taça por causa do campeonato que temos vindo a fazer. Como estamos um bocadinho mais folgados no campeonato [12 pontos de vantagem sobre o segundo], estamos a valorizar mais a taça, porque é uma competição interessante, que nos permite defrontar adversários de outros patamares, de campeonatos competitivos e isso é sempre bom.

 

Vítor Pereira, vice-presidente da ARC São Lourenço do Douro, destacou o bom trabalho da equipa técnica e daquele que tem liderado o clube ao sucesso

“António Pereira é a força deste clube”

António Pereira, presidente da ARC São Lourenço do Douro, estava em isolamento e não pôde estar presente, mas foi apontado como o grande responsável pela boa campanha do clube. “O António Pereira é o presidente e o nosso líder, uma pessoa que vive muito isto, é a força deste clube. Quer sempre mais, é muito ambicioso. Sem ele não estávamos onde estamos”, garantiu Vítor Pereira, Irmão e vice-presidente do clube. “O nosso plantel tem muita qualidade, mas temos aqui jogadores que já estavam cá e que estão a fazer um campeonato extraordinário, porque foram recuperados. Não se contrataram só jogadores de renome. Há outra motivação em jogadores nossos, que estão a jogar como nunca, muito acima daquilo que alguma vez vimos. Esse trabalho deve-se à equipa técnica, acertamos na muche. Esta equipa técnica tem feito um grande trabalho”, sublinhou ainda.