Valadares alcança a marca de 150 atletas femininas


O Valadares alcançou uma marca digna de registo. O clube gaiense chegou às 150 atletas femininas inscritas esta época e reforçou o estatuto de clube com mais atletas femininas da AF Porto. A nível nacional, está no lote restrito de três clubes que alcançam esta marca, sendo o único não profissional.

O presidente José Manuel Soares não podia estar mais satisfeito com tantas atletas inscritas e não esconde a ambição de ir mais além. “Estamos muito satifeitos por termos 150 atletas femininas, mas acredito que seja possível ir mais longe”, apontou. A partir daqui, a fasquia está colocada nas 200. “Com mais e melhores infraestruturas estou convencido que podemos continuar a crescer e de forma natural a partir daí, porque com melhores infraestruturas teremos também mais confiança dos pais para nos permitir formar mais atletas”, argumentou.

Se o Valadares já era visto como uma das maiores bandeiras do futebol feminino, com 150 atletas femininas no clube reforçou ainda mais esse estatuto. “A verdade é que elas já correspondem a 25 por cento dos atletas que temos”, sublinhou José Manuel Soares.

“Em 2012, quando apostamos no futebol feminino não foi por uma questão de moda, mas para nos diferenciarmos e inovarmos. Começamos a criar a oportunidade e privilegiar a igualdade de direitos para todos, porque achamos que havia uma lacuna em Vila Nova de Gaia, que não tinha futebol feminino. Na altura confesso que só pensávamos em futebol sénior, mas começaram a aparecer miúdas de todas as idades, que mais pareciam cerejas. A partir daí começamos a estrutura-nos e a preparar equipas de formação”, contou o presidente.

Pode dizer-se que o impacto foi imediato: “O ano de 2012 acabou por ser histórico, porque fomos o único clube da II Divisão do futebol feminino a chegar a uma final da Taça de Portugal. Subimos à I Divisão nesse mesmo ano e acabou por ser uma entrada em grande no futebol feminino, que contagiou toda a direção, sócios e adeptos”.

A sede do clube é outro exemplo de igualdade. O edifício foi adaptado e hoje tem uma ala com quartos para acolher atletas masculinos e outra ala para atletas femininas, uma cozinha industrial, um refeitório para as refeições e zonas de convívio. “Desde 2012 privilegiamos a igualdade de género, sem qualquer tipo de discriminação. Fomos preparando o clube para dar às mulheres as mesmas oportunidades e o projeto, que também é social, acabou por ser muito bem aceite por todos e pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, que o apadrinhou desde o início, porque é inclusivo”, sublinhou José Manuel Soares.

Com 150 atletas, o Valadares é um dos poucos clubes que conta com todos os escalões de formação no futebol feminino e um dos quatro emblemas, a nível nacional, com equipa B feminina. “É um esforço grande que fazemos, mas temos apostado na equipa B, por causa da formação e da quantidade de atletas que temos formadas em casa. Tudo isso obriga-nos a ter entre 15 e 20 treinadores”, esclareceu.

Impressionante é também o espírito que se vive no Valadares, onde toda a gente respira futebol por todos os poros. “Chegar à Seleção Nacional, para uma atleta, é a cereja no topo do bolo. Para o clube é perceber que potenciamos o crescimento da atleta e que ela atingiu o máximo para representar o país. A seleção funciona como um incentivo extra para elas. Aliás, quando a seleção feminina joga, o Valadares tem, por norma, enchido dois ou três autocarros. As nossas meninas apoiam a seleção, porque há uma identificação muito grande e porque têm a mesma ambição de lá chegar um dia”, explicou o presidente.

Referências é o que não faltam no clube, referências, aliás, que se tornam exemplos e que mostram às atletas mais jovens que tudo é possível com empenho diário. “Ficamos felizes por ver uma Diana Gomes no Sevilha, uma Inês Maia no Besiktas, na Turquia, uma Lúcia Alves no Benfica, ou uma Tatiana Pinto no Brighton, em Inglaterra, ou seja, todas jogadoras que passaram por aqui e que ajudamos a crescer. É motivo de orgulho e satisfação e damos a conhecer estas histórias na formação como fator de motivação extra, para lhes mostrar que é possível lá chegar se for realmente isso que elas querem”, partilhou.

A formação continua a ser uma das maiores apostas do clube e José Manuel Soares antevê um futuro risonho ao Valadares, com a qualidade das jogadoras que tem nos escalões mais jovens: “Não temos o poderio financeiro de Benfica, Sporting, Braga ou Famalicão. Mas lutamos com as armas que temos e sabemos que vem aí uma geração muito boa e que a base vai aumentar. O trabalho está a ser feito ao nível da formação e as miúdas com 17 aos 19 anos estarão preparadas para jogar numa I ou II Divisão. Não me admira que, nessa altura, alguns clubes da I Divisão venham cá bater à porta”.

A qualidade das atletas não é um problema, longe disso, e se há clube com o seu projeto de futebol feminino bem consolidado, esse clube é o Valadares, pelo que ninguém questiona a capacidade que o emblema de Vila Nova de Gaia tem tido para se manter ao mais alto nível. “Estamos na Liga BPI há mais de dez anos, tratamos bem as nossas atletas desde o primeiro dia.

Não há discriminação, há igualdade de direitos, esta é a nossa grande bandeira, elas sabem disso e sentem-se bem. Sabem que aqui passamos das palavras aos atos. Sentem as ações no dia-a-dia e depois temos um histórico no futebol feminino que faz com que elas tenham um respeito muito grande pelo clube, porque o clube também o tem por elas”, explicou José Manuel Soares, sem receios de ver os maiores clubes reforçarem-se regularmente com atletas do clube: “O Valadares sempre sobreviveu a isso, é normal. O que temos de fazer é continuar a formar, irmos buscar valores a outros clubes, à II ou à III Divisão, que estejam em pleno crescimento. A nossa equipa B pode ser uma via para ajudar ao crescimento dessas atletas. É por aí que temos de ir, até porque os maiores clubes não podem ter a jogadoras todas. Além disso, somos sérios e pagarmos e sublinho que nunca ficamos a dever nada a ninguém, e elas sabem disso”.