O FC Boelhe, oitavo classificado da Série 3 da I Divisão Distrital da AF Porto, tinha acabado de perder em casa contra o Sobrosa (1-2), no passado dia 7 de janeiro, num jogo correspondente à 15ª jornada do campeonato, quando a equipa de arbitragem liderada por José Miguel Santos se despistou, no final, perto do campo. O carro onde seguiam, tinha ficado em cima de um muro, numa situação periclitante, que ameaçava resvalar por uma ribanceira. Mas a reação coletiva foi instintiva. Jogadores das duas equipas e adeptos do FC Boelhe, liderados pelo presidente do clube, Manuel Coelho, socorreram de pronto a equipa de arbitragem. “Foi um acidente com um árbitro assistente, mas fosse com quem fosse, a nossa reação iria ser sempre a mesma. É a nossa maneira de ser, ajudar quem precisa, independentemente de quem fosse que ali estivesse”, declarou Manuel Coelho, com toda a naturalidade. “Não íamos abandonar ninguém, sobretudo numa situação com feridos, num sítio em que não conheciam ninguém”, justificou.
“Deve ter sido uma distração, não sei se a despedir-se de alguém, o certo é que quando deram conta estavam em cima de um muro. O carro ficou numa situação perigosa em que até podia ter caído por uma ribanceira, mas ficou ali. Foi mais o ferido que, com o embate, foi atingido nas canelas e achamos por bem acionar os meios necessários para que a assistência fosse prestada, por precaução”, contou ainda.
Enquanto não chegava a assistência, a enfermeira do clube foi dando a assistência necessária. Entretanto, já com o reboque no local, a situação do veículo obrigou a uma intervenção musculada. “Adeptos e jogadores do clube ajudaram a tirar o carro de uma situação em que se fosse rebocado ia provocar muitos mais danos. Juntamos sete ou oito pessoas, pegamos no veículo em peso e acabamos por tirá-lo de cima do muro para que pudesse ser rebocado sem problemas”, explicou ainda o presidente do emblema do concelho de Penafiel, que desvalorizou sempre a sua intervenção.
“Faz parte da minha maneira ser, era um árbitro, mas independentemente disso é uma pessoa como outra qualquer. O jogo tinha acabado, ponto final. Bem sei que há sempre quem ferva um bocado, há sempre alguma adrenalina, sobretudo quando se perde, como foi o caso, mas acabando o jogo acaba tudo, o que se passou dentro do campo passou. Foi um acidente que até podia ter corrido bem pior, mas que nada tinha a ver com o jogo e com a nossa derrota, não podemos, nem devemos, misturar as coisas”, frisou. “O árbitro achou que foi um ato importante, mesmo depois de termos perdido. Mas insisto, sem que eles tivessem culpa, perdemos, o resultado foi justo, nada a dizer, mas ele achou que foi um ato de bondade, para mim foi normal”, comentou.
Mas o árbitro José Miguel Santos insistiu: “O reconhecimento do árbitro também deve ser destacado, porque não tinha necessidade de dar conhecimento do que aconteceu, nem isso me preocupou, deixei ao critério dele, porque não fazia questão, foi tudo normal, por mim nem era necessário, não valia a pena, mas tudo bem”, rematou Manuel Coelho.