Dérbi de Baião promete ser exemplo de “Fair-Play”


O encontro da 9ª Jornada da Série 3, da II Divisão Distrital, vai ficar na história como o primeiro jogo entre duas equipas do concelho de Baião. A Associação Desportiva de Ancêde recebe a Associação Desportiva de Baião e este promete ser um dérbi diferente. Aliás, as diferenças começaram logo com uma conferência de Imprensa que juntou presidentes, treinadores e dois capitães dos dois emblemas, para lançar um dérbi que vai concentrar todas as atenções. Mas atenção, a palavra de ordem é “Fair-play” e foi várias vezes repetida por todos os intervenientes, porque o objetivo é fazer deste primeiro dérbi uma festa para as gentes do concelho.

Perceber este duelo, por dentro foi um desafio, certamente mais para quem vem de fora, porque quem procurar diferenças… vai tropeçar no muito que une as gentes de Baião. “Alguns vão almoçar na mesma casa. Temos dois irmãos que vivem na mesma a casa, que vão jogar, um pelo Baião [Diogo Marques], outro pelo Ancêde [Bruno Marques]”, começou por lembrar Fernando Vieira, treinador da equipa da casa. “Outros irão tomar café juntos, antes do jogo e, no final, certamente que vão beber uma cerveja juntos. O jogo só correrá bem se tudo funcionar”, acrescentou ainda o mister que, apesar de tantas outras ligações, não deixou de vincar outros aspetos que espera ver em campo: “Todos têm de sentir, o desporto tem de ser sentido. Têm de olhar para o adversário de uma forma saudável e procurar ganhar. No dia seguinte haverá que regressar ao trabalho”.

Para quem está habituado a ver dérbis disputados, muitas vezes para além de certos limites, aqui o que se pretende é lembrar que o futebol é apenas um jogo. “Talvez no passado o bairrismo fosse mais acentuado. Mas não encaro este jogo assim, antes como um jogo normal, que vale três pontos, frente a um adversário que muito preso. O concelho é tão pequeno que temos imensos pontos em comum. A AD Baião tem atletas da AD Ancêde e a AD Ancêde atletas do centro da vila. Alguns atletas são diretores da AD Baião, outros treinadores, portanto, não acho que falar em bairrismo faça sentido neste jogo. Espero que a AD Baião ganhe, mas que a AD Ancêde ganhe os outros jogos todos”, explicou José Nunes Martins, presidente da AD Baião. “O futebol é uma festa, não tem de ser um local de confronto e de extravasar de emoções contidas. O jogador tem de se preocupar em jogar e não em mandar bocas aos colegas, ou aos árbitros, têm de se controlar, porque a este nível joga-se futebol por gosto. O exemplo também pode vir do campo para fora, até porque os jogadores são amigos”, acrescentou ainda, mais à frente, durante a conferência de Imprensa.

O presidente da AD Ancêde, Augusto Carlos Sousa, também tem poucas dúvidas, em relação à postura e à forma como que este dérbi histórico tem de ser encarado. “Há três ou quatro anos éramos colegas de direção e, portanto, temos uma boa relação”, comentou, dirigindo-se ao presidente da AD Baião. “É importante promovermos o desporto no concelho e o futebol, neste caso. Se calhar, no passado, as pessoas viviam estes clubes com mais paixão. Eu vivi as duas realidades e sei como é que o Baião e os seus adeptos, enquanto ex-diretor, vivem o clube”, sublinhou, antes de deixar a sua mensagem para os adeptos. “A mensagem para eles é apelar aos de Ancêde, que são incansáveis, mesmo sem os resultados que esperávamos, para que continuem a apoiar e sejam fervorosos. Sabemos que um jogo de futebol pode levar a alguns exageros, mas queremos que tenham a consciência que um jogo de futebol não passa de um jogo”, vincou.

As tais “diferenças” que se podiam procurar acabam esvaziadas, quando se percebe que adeptos dos dois lados estão habituados a ir ver os jogos dos adversários. “Por isso é que digo que é mais aquilo que nos une, do que aquilo que nos distingue. Há muitas pessoas que são adeptos dos dois clubes. Faço parte dos órgãos sociais do Baião desde 2007 e sempre vi muitas pessoas de Ancêde nos nossos jogos, jogadores, etc… São dois clubes ligados de tal forma que prefiro fazer a referência ao contrário”, insistiu o presidente da AD Baião.

Aliás, se Rui Rocha, capitão da AD Baião garante que vai cumprimentar todos no domingo, “como não o faço em mais nenhum campo”, o capitão da AD Ancêde coloca as coisas de uma forma muito simples: “Conhecemo-nos bem, a relação é de amizade e de algumas noitadas vividas. Acredito que no calor do jogo possa sair uma boca, ou outra, mas no final estaremos todos juntos para o abraço. O Ancêde é um clube bairrista e que joga com raça. Vamos dar tudo na raça, mas vamos atacar a bola e não os nossos colegas, porque no dia a seguir há um dia de trabalho”.

Carlos Fonseca, o treinador da AD Baião, vai mais longe, quando confrontado com o primeiro dérbi de Baião e garante que gostava de ver o dérbi repetido a outro nível até: “É a primeira vez que vamos jogar, mas apenas por circunstâncias da história. O Ancêde está com uma nova dinâmica e de regresso aos campeonatos distritais. Vamos esperar que daqui a meia dúzia de anos seja um jogo de uma divisão de Honra ou de Elite, porque seria muito bom para o concelho”, argumentou.

Por fim, Adelino Gomes, vice-presidente da Associação de Futebol do Porto, presente na conferência de imprensa dos dois clubes, congratulou os responsáveis pela iniciativa, lembrando que os clubes da AF Porto “são a essência da Associação” e que neste caso, “são dois clubes ligados pela própria história administrativa e isso ninguém pode separar. Estamos a falar de Fair-play e as pessoas têm de se capacitar que um jogo de futebol é só isso, que é preciso saber ganhar, mas também empatar e perder. Todos têm de saber adaptar-se a estas três situações. Além disso, vocês são um exemplo para as camadas jovens, por isso devem dar o exemplo daquilo que se deve fazer. O jogo vai ser uma festa e é isso que deve ser. Não devia ser preciso fazer estas conferências de imprensa, nem ter estas ideias”.