FC Cête voltou ao futebol sénior e é tema de conversa na vila


O FC Cête está a renascer. Misturaram-se paixão, loucura, nostalgia e lágrimas quanto baste para devolver vida ao clube, porque as saudades dos domingos à tarde passados a vibrar no campo pelado do clube nunca abandonaram os corações de Rafael Sousa e César Barros, Presidente e capitão da equipa, respetivamente. Na época passada, ambos reativaram um clube que tinha fechado portas ao futebol sénior há uma década e as imagens do passado voltaram a ver-se, quando adeptos de todas as idades inundaram as bancadas para o jogo decisivo contra o Boim.

“Joguei na Luz perante 50 mil adeptos e isso é algo que nos fica marcado. Aqui é uma nostalgia. Quando vi o campo cheio, lembrei-me quando vim com o meu avô ao meu primeiro jogo, tinha cinco anos. Vi sete amigos de infância, mas depois ver o pessoal da terra na bancada é diferente. É uma paixão. Na Luz foi o realizar de um sonho e uma emoção. Aqui caem lágrimas. Entramos com o campo cheio na nossa terra, com todas as pessoas que conhecemos e é incrível. Compensa mais do que receber um ordenado no fim do mês. Para mim o futebol mais bonito é este, é puro. Há velhotes que ganharam vida à custa do FC Cête e sinto uma grande satisfação.

Vamos na rua e as pessoas agradecem-nos por termos pegado no clube. As pessoas têm necessidade de vir ter connosco e isso é um motivo de grande satisfação, porque estamos a fazer alguma coisa pela vila e a dar aos outros”, conta Rafael Sousa, antigo jogador do Penafiel, Moreirense e Nacional, entre outros clubes.

O FC Cête subiu e disputa atualmente a Série A da I Divisão Distrital da Associação de Futebol do Porto. Mas o início não foi fácil. “A sede estava praticamente destruída, recuperamos tudo, mas só foi possível, porque acreditaram em nós. Tivemos pessoas a trabalhar e a ajuda de algumas empresas. Foram eles que acreditaram em nós inicialmente, porque à volta havia sérias dúvidas. Depois, com obras feitas, finanças recuperadas e as coisas minimamente estruturadas, começaram a acreditar.

Mas inicialmente, até da inscrição dos seniores duvidavam que se pudessem fazer. Perguntavam de que forma iríamos cativar os jogadores, não acreditavam que pudéssemos construir uma equipa e nisso devemos muito ao César Barros, que jogou e treinou em muitas equipas. A minha presença ajudou, trouxe credibilidade. Com o arranque a correr bem e a aprovação do campo, só se falava do Cête na vila. Éramos tema de conversa em todo o lado. No primeiro jogo em casa contra o Freamunde tivemos 600 adeptos. No último jogo, no FC Cête-Boim vendemos mais de 800 bilhetes, foi incrível e marcante”, recordou o presidente do clube do concelho de Paredes.

Hoje, a aventura continua e as metas estão traçadas. Reativar a formação depende de um projeto que vem sendo negociado com a autarquia para a construção de campo sintético e pode alavancar o futebol sénior para atacar a Divisão de Elite. “Subirmos ao fim da primeira temporada com uma equipa sénior e queremos levar o FC Cête o mais alto possível, nos próximos quatro ou cinco anos, com uma estrutura que suporte a formação e a equipa sénior”, aponta César Barros.

“Queremos segurar aqui os nossos miúdos. Ainda há umas semanas se estreou no Paços de Ferreira, um miúdo de 16 anos [Mauro Couto], que passou pelo FC Cête. Aqui costumamos dizer que dá-se um chuto numa pedra e descobre-se um jogador com qualidade para o futebol. As crianças, tal como as da nossa geração, crescem na rua, dão uns chutos na bola nas ruas e têm um potencial tremendo, que está a ser aproveitado pelos nossos vizinhos. Queremos ter capacidade para os treinar cá e para isso é essencial termos um campo para os trabalhar”, explicou o capitão.

A direção está empenhada em ver concretizada a construção do sintético e tem estado ativa junto da autarquia de Paredes. “Temos vindo a conversar com o Alexandre Almeida, Presidente da Câmara Municipal de Paredes, que sabe perfeitamente da nossa necessidade. Este projeto só terá pernas para andar com um campo e ele sabe disso.

Depois do que fizemos num ano, com este entusiasmo todo, se não tivermos condições num curto espaço de tempo para dar continuidade, o projeto acabará por morrer. Sabemos que o terreno está identificado, que há negociações para a sua aquisição. A data definida para compra está apontada até ao final deste ano, para depois desenvolvermos o projeto a partir de janeiro. Se tudo correr bem, em cerca de dois anos, ou um pouco mais, esperamos poder ter o sintético. Até lá, estamos preparados para andar com a casa às costas. Aliás, esta época temos de jogar em Paredes, porque não temos condições para jogar cá. Isso vai pesar nas receitas e nos adeptos, mas temos isso previsto”, explicou o presidente Rafael Sousa.

“Para o nosso pelado temos um projeto para criar aqui um campo de sete e fazermos dele o nosso viveiro. Não queremos perder um espaço que para nós tem um tremendo significado histórico”, acrescentou ainda.

Ainda bem frescas na memória de Rafael Sousa e César Barros estão as imagens dos festejos da subida da época passada, imagens e sensações que esperam ver repetidas nos próximos anos. O entusiasmo está lá para voltarem a festejar na vila. “Quando subimos, formaram uma caravana que percorreu as ruas da freguesia, se calhar nenhuma campanha política teve tantos carros em caravana como nós tivemos. Todas as portas se abriram para nos oferecer uma bebida, vieram para a rua festejar, parecia que tínhamos sido campeões nacionais. Desde pequenos que aprendemos a gostar da terra e todas as pessoas daqui têm esse sentimento, há muito bairrismo”, lembrou um presidente disposto a voltar a colocar o FC Cête nas bocas do povo da terra.