O gesto do árbitro Jorge Costa que lhe valeu um cartão branco


Está longe de ser um gesto habitual ver um árbitro levar um cartão, neste caso exibido por um jogador, normalmente, o sentido é o inverso. Mas aconteceu ao árbitro Jorge Costa, no passado fim de semana, no jogo da II Divisão de Iniciados, AVS-1º de Maio Figueiró.

“A meio da primeira parte, apercebi-me que um atleta do 1º de Maio Figueiró levou uma bolada na barriga. Ficou no chão. Interrompi o jogo e junto dele apercebo-me que está com falta de ar. Procurei perceber se estava consciente, mas senti-o a iniciar um ataque de ansiedade. Tinha o pulso acelerado e sentia-se ourado. Entretanto, o jogador começou a ficar pálido, como quem se preparava para ter uma quebra de tensão e pedi ajuda aos delegados, para irem buscar água e açúcar”, contou Jorge Costa. O jogo esteve interrompido cerca de dez minutos, “mas, entretanto, começou a voltar a ele e a ganhar cor e pudemos retomar a partida”, acrescentou, acabando a desempenhar o papel de fisioterapeuta até ao apito final.

Como auxiliar de ação médica, o que não falta é experiência a Jorge Costa, que se prontificou a ajudar o jovem a recuperar. “Devemos intervir quando sabemos, minimamente, aquilo que estamos a fazer, não só para ficar bem na fotografia”. Foi uma reação natural, de quem agiu sem pensar, focado apenas em ajudar naquele momento.

Já no final do jogo, um diretor do 1º de Maio Figueiró pediu-lhe o cartão branco. “Pelos vistos era o pai do atleta. Não sabia. Pediu-me o cartão e entregou-o ao capitão da equipa, que me o exibiu perante a equipa adversária e os adeptos dos dois clubes, que me aplaudiram”, partilhou ainda. “Foi uma surpresa, porque nos dias de hoje não é muito normal para um árbitro. É mais normal o insulto, do que o elogio pelo nosso gesto. O cartão branco foi, sobretudo, em agradecimento por aquilo que fiz. Mas faço-o em outros jogos e já o tinha feito porque, além de árbitro sou humano e coloco-me no lugar dos outros”, partilhou.

Jorge Costa acredita que o gesto dele não será caso único, “certamente que colegas meus já passaram por situações parecidas. Mas é importante que percebam que o árbitro está ali, não como o mau da fita, ou o bicho papão, mas que é um ser humano, que olha para todos da mesma forma e que, no seu trabalho, vai errar da mesma forma, porque acontece naturalmente. Estamos ali para conduzir o jogo, mas também para ajudar e não para sermos o mau da fita que alguns pintam”. No fundo, o papel de árbitro encerra vários outros em si mesmo: “Não estamos ali só para apitar, mas para ensinar, explicar, ajudar e tentar fazer o nosso melhor. Mas digam bem, ou mal, a minha postura dentro de campo tem sido esta e é a que vou continuar a levar para todos os jogos que possa vir a fazer”, concluiu.