O segredo do regresso do Caxinas à Liga Placard


O ADCR Caxinas está de regresso à Liga Placard, depois de uma época na II Divisão, e volta com mais certezas do que nunca em relação a um processo formativo, que os distingue dos demais. Neste clube, o limite é a qualidade, não se olha a idade, ou escalão para alcançar o sucesso, o que leva a uma aposta sem receios até em jogadores de 16 anos para compor o plantel sénior que contou, esta época, 16 jogadores, cinco dos quais em idade júnior. “Desde há cerca de 10 épocas para cá, cada atleta treina no escalão em que pode ser potenciado e nunca em função da idade que possa ter. Isso faz com que estejam muito mais bem preparados, porque trabalham a um ritmo mais adequado e mais elevado do que aquilo que a idade deles pressupõe”, explica Raul Moreira, coordenador e responsável pelo futsal do clube.

O processo é transversal e começa logo aos 6 anos de idade, pelo que os mais capacitados não tardam a ser puxados para o escalão acima. “Temos jogadores que escolhem o Caxinas pelo nosso processo, porque percebem que aqui estão mais perto de alcançar caminhos de excelência, com a formação que damos, pelo que a saúde competitiva do Caxinas está bem e recomenda-se”, acrescenta ainda, consciente que a próxima época, na Liga Placard, vai obrigar a elevar ainda mais a exigência: “Sabemos que vamos para a Liga Placard e que os juniores não terão provavelmente a mesma preponderância que tiveram esta época, mas vão ter os seus minutos, porque os jogadores com mais minutos na equipa sénior, esta época, até foram três juniores. Somos campeões da II Divisão com cinco juniores na equipa sénior, um é guarda-redes. Mas onze jogadores são da formação, dos 16 que temos no plantel sénior. Esta performance é alicerçada num modelo de jogo transversal da formação, que começa a partir dos 6 anos até aos juniores”.

Na época passada, por esta altura, o contexto era de descida, “injusta”, insiste Raul Moreira, mas as agulhas rapidamente se voltaram a virar para cima, “O que foi dito aos jogadores, no primeiro dia, é que nós éramos um clube de I Divisão a jogar na II Divisão e tínhamos a época toda para provar que isso era verdade”, intervém Nuno Silva, treinador que conduziu o clube à Liga Placard. “Mas também serviu para constatarmos que o nosso processo estava correto, que a formação e a ligação que temos com a equipa principal são o caminho certo. Aproveitar os jogadores da formação fez com que eles se identificassem com o clube e o clube com eles, porque a transição quase não existe e ao treinar no escalão acima estão sempre mais bem preparados. Também mostrou que o clube está estruturado, é sustentável e tem a ideia e o perfil correto para a modalidade, neste momento”, juntou ainda.

Outra prova de que o caminho que vem sendo traçado na formação está correto foi a conquista do título de campeões nacionais do escalão sub-19. O ADCR Caxinas venceu o Benfica na Luz (2-6), no segundo jogo de uma final disputada à melhor de três, depois de uma vitória (4-1), em Vila do Conde, no duelo inaugural. “Num formato mais competitivo, que conta com a presença muito forte de Benfica e Sporting, o Caxinas eliminou o Sporting nas meias-finais e o Benfica na final, o que, indiscutivelmente, diz que fomos os melhores da competição”, sublinha Raul Moreira, que descodificou o ADN do jogador “à Caxinas”. “No Caxinas, os jogadores são educados desde o primeiro dia a ser rigorosos, exigentes com eles próprios, a saberem lidar com a adversidade quando vão para dentro de campo e a trabalhar até ao limite. Depois, com o sangue e a proximidade com a nossa comunidade, percebe-se o porquê de as Caxinas serem conhecidas pela raça, tradição e crer, pela abnegação e por não dar nada como garantido. Sendo os jogadores daqui, não precisam de ter familiares ligados à pesca para encarnar aquilo que é de cá e transportam facilmente esses valores e essa identidade para dentro de campo ao longo de toda a carreira”.

Voltando à equipa sénior, o treinador Nuno Silva não esconde que o nível que se vai encontrar na Liga Placard vai obrigar a rever alguns aspetos. “O ano de subida de divisão é sempre muito complicado, porque há uma mudança de competição muito grande. Agora, com um campeonato disputado a 12 equipas ainda mais se vai sentir a competitividade entre as equipas. Disputar play-off, jogar a manutenção, ou jogar para os quatro primeiros lugares será complicadíssimo. Por isso, temos de fazer um esforço extra para corresponder, com o objetivo de nos mantermos. Conseguido isso poderemos perspetivar mais alguma coisa, mas só depois”, contextualizou o mister e Raul Moreira não negou a necessidade de terem de ir ao mercado para reforçar a equipa, sem que isso descaracterize a política do clube. “Os nossos jogadores sabem que são apostas e que há continuidade na formação. É nossa política e essa vocação existe aqui. Desceu-se de divisão, mas manteve-se a aposta na formação e assim vai continuar”, prometeu o coordenador. “Até porque cada ano que passa sentimos um salto evidente de qualidade. Estamos a falar de um plantel com jogadores de 16, 17 e 18 anos. É normal que com mais um ano em cima se sinta um salto. É uma evolução normal, mas a aprendizagem que tiveram foi muito importante, porque hoje têm um conjunto de experiências, de conhecimento e competências que não tinham na época passada. Com a qualidade e a maturidade que vão apresentando, daqui a quatro ou cinco anos serão jogadores de excelência, porque vão continuar a desenvolver essas mesmas competências”, argumentou Nuno Silva.

Por fim, Raul Moreira aproveitou para fazer uma chamada de atenção para que o clube continue a crescer e a afirmar-se como uma referência no universo do futsal em Portugal: “Parece um paradoxo, mas ganhar uma Taça chega a ser irrelevante para mim. Conta mais a visibilidade e isso é o que nos tem feito falta. Este fim de época foi brutal, nunca o pavilhão esteve tão cheio em todos os escalões, porque lutamos para ganhar em todos eles. A nível nacional todos sabem aquilo que somos, mas dentro do concelho ainda falta o tal clique. Se tivermos mais apoio da cidade podemos ainda ser melhores. A curto ou médio prazo, com o apoio das entidades do concelho, poderemos ter uma presença assídua nos play-off, mas precisamos de consolidar o nosso trabalho, porque com 12 equipas a competir na próxima época na Liga Placard, vai ser muito complicado. O nosso processo de formação é este e é intocável, mas se nos derem condições podemos crescer ao mais alto nível”.