“Quero ajudar estas jovens a chegar à Seleção Nacional”


Neide Simões é a nova treinadora de guarda-redes das seleções de futebol feminino da Associação de Futebol do Porto. Para a antiga internacional portuguesa, mais do que a realização pessoal e a paixão que sempre sentiu pelo futebol, esta é sobretudo uma oportunidade para trabalhar no sentido de elevar o nível do futebol feminino em Portugal. "Dei o meu primeiro treino a meio do mês de outubro e adorei, estava nas minhas sete quintas", começou por lembrar.

"Quero ajudar a melhorar a qualidade das nossas guarda-redes, passar-lhes a minha experiência e conhecimento e ajudar estas jovens a chegar à Seleção Nacional”, explicou sublinhando a importância do passo dado pela Associação de Futebol do Porto. “Ao sentirem que estão num grupo onde estão as melhores vão perceber que estarão mais próximas de chegar a um grande clube. Vai ser motivador sim, as seleções nas associações fazem todo o sentido. Terem apostado no treino de guarda-redes, neste caso, é uma mais-valia, porque vem dar mais qualidade e ajudar a colmatar uma lacuna em Portugal".

A experiência de ter passado pelo futebol alemão ao longo da carreira, envergando a camisola de clubes como FC Colónia e SC 07 Bad Neuenahr permite-lhe hoje ter uma noção mais real do trabalho que Portugal terá de desenvolver para poder ombrear com as maiores potencias mundiais. “Portugal tem tudo para se tornar uma potência Mundial, podemos alcançar o nível de outros países, mas ainda temos muito que andar, por exemplo, na área de treino de guarda-redes, que, quanto a mim, está muito aquém. Os clubes têm poucos treinadores de guarda-redes, há pouca formação, poucos treinadores formados e tudo isso influencia a evolução do futebol feminino”, apontou.

O gosto pelo futebol levou Neide, desde muito cedo, a apetrechar-se para chegar ao mais alto nível. “Sempre fiz formações sobre treino de guarda-redes, desde nova, jogava e queria perceber mais, evoluir, ter mais conhecimento para melhorar”, sublinhou, encarando com naturalidade que tenha acabado por despertar a atenção da Associação de Futebol do Porto. “É um gosto estar a trabalhar para a Associação de Futebol do Porto, fiquei muito contente quando me ligaram porque também é uma forma de reconhecimento pelo meu trabalho. Quero poder passar os meus onze anos de experiência de Seleção Nacional”. Nesta altura, à margem do treino, Neide tem nos planos acrescentar mais uma formação ao currículo. “Estou a ponderar tirar o segundo nível de treinador, para não estar só ligada ao treino de guarda-redes, mas tudo porque gosto de futebol”, insistiu.

Com a formação e a experiência adquirida, a antiga internacional acredita ter o que é necessário para assumir o desafio e espera que a Federação Portuguesa de Futebol também continue a ajudar no sentido de fazer evoluir ainda mais o futebol feminino. “Vejo como muito positivo todo o esforço que se tem feito e gostava que pudessem levar mais clubes a apostar no futebol feminino. A pandemia afetou muito o futebol e o feminino em particular. Podíamos estar melhor, mas é essencial que haja um trabalho contínuo de todos para não deixarmos de melhorar”, apontou.

Com o lendário Buffon, Almuth Schult, antiga concorrente na baliza no SC 07 Bad Neuenahr, e ainda a guarda-redes portuguesa Carla Cristina entre as suas principais referências, Neide Simões congratula-se por ver o futebol feminino evoluir em Portugal, mas lembra que ainda há muitas lacunas a suprir. “A mentalidade já mudou, mas pode mudar mais. Muitos treinadores e diretores não têm noção do que acontece no estrangeiro, não têm noção do nível a que se trabalha e da realidade deles. Depois também há muitas lacunas em termos de infraestruturas, dirigentes e investimento que vão parar ao masculino, porque não dão a devida importância ao futebol feminino”, frisou ainda.