Castêlo trocava rótulo de “equipa-sensação” pelo de equipa sensacional


Se na Série 1 da Divisão de Honra o SC Castêlo da Maia luta luta pelo Play-off de apuramento, é na Taça da AF Porto que o emblema da Maia está a revelar-se uma verdadeira sensação com a eliminação de Canidelo e Freamunde, duas equipas da Divisão de Elite, nos 16-avos e nos oitavos-de-final, respetivamente. Basta entrar nas instalações do clube para se perceber que se entra num Mundo próprio. O balneário fervilha de energia com jogadores que não deixam baixar os decibéis dos cânticos que entoam enquanto se vestem para ir treinar, tal mercenário a preparar-se para a guerra.

“Passamos aqui grande parte do tempo uns com os outros, se calhar mais do que com as namoradas, e não deixamos que nada interfira, o casulo está bem fechado”, garante Rafa, um dos capitães da equipa. “Não vou saber o que fazer ao domingo quando acabar a época, porque estou muito afeiçoado à malta, não vai ser fácil. Vou ter de aprender a estar em casa. Mas o que me deixa feliz é ver os sócios a combinar à quarta-feira como é que nos vão ver. Há quatro ou cinco anos isso era impossível de ver. Pedem um bombo que há para aí e umas bandeiras e lá vão eles apoiar-nos”, acrescenta ainda.

A equipa está de espírito renovado. “As vitórias ajudam bastante, claro, a malta ganha confiança, o ambiente é bom, porque a cara de quem ganha não é igual à cara de quem perde. Sabemos o que queremos em campo e este grupo jovem tem muita vontade de vencer. Os mais velhos ajudam os mais jovens e o segredo é muito trabalho e uma forte identidade, isso é verdade”, reconhece Quim Nando, outro dos capitães do Castêlo da Maia.

Quem arriscar dizer que “é sorte” leva com um sorriso carregado de ironia. “Decidimos mudar e apostar no João Pedro esta temporada, porque ele já cá está há muitos anos, jogou e treinou as camadas jovens. Depois, mantivemos os jogadores nucleares e os mais experientes desta equipa para transmitirmos aquilo que é o Castêlo da Maia aos mais jovens. A base deste projeto são os jogadores da formação. Sabíamos que íamos correr um risco ao apostar no João Pedro, porque ele nunca tinha treinado seniores, mas tínhamos confiança nele, conhecíamos o trabalho que ele tinha feito e decidimos apostar neste projeto com o que temos. Queremos continuar a poder contar com mais jogadores da casa, jogadores que os sócios sejam capazes de identificar aos domingos. É assim que se cria uma forte identidade e é isto que queremos levar em frente”, explica o presidente, Luís Marçal.

Mas nem tudo foi fácil e há um jogo que os jogadores retiveram como um momento de viragem. “Contra o AC Milheirós, perdemos (3-2), mas fomos superiores. Mexeu connosco, a partir dali percebeu-se que alguma coisa tinha mudado, até nos sócios. O Castêlo é um clube grande, tem muito apoio dos adeptos e leva muita gente nos jogos fora, numa realidade distrital, recordo. Mas o clube tem uma identidade muito grande e muito forte”, frisa Quim Nando. “Essa derrota e a insatisfação que isso gerou nos nossos adeptos só acontece num clube grande”, sublinha o treinador João Pedro que, apesar de ser jovem, não acredita em "histórias".

“Nunca abdicamos da Taça. Alguns dizem que não ligam muito, mas ninguém entra em campo para perder. Nós quisemos ganhar desde o início. Claro que com o plantel e a estrutura que temos, jogar às quartas e aos domingos não tem sido fácil, muitas vezes contra adversários que treinam durante o dia, enquanto os nossos jogadores trabalham e só conseguem treinar ao final do dia. Depois, preparar tudo, com um jogo à quarta, um treino à sexta e outro jogo ao domingo, passar informação e gerir a condição física dos atletas, não é fácil”, fez notar.

Insistir na tecla da “sorte” perde ainda mais sentido, quando nos embrenhamos naquilo que é o SC Castêlo da Maia. “Há uma ideia de jogo e uma série de detalhes que fazem com que seja mais fácil isto acontecer. Há uma estratégia, um modelo, um padrão ou uma forma de jogarmos, que leva em conta as características do plantel e a qualidade dos jogadores que temos. Juntamos isso e criamos uma identidade em campo. Aos poucos fomos convencendo os jogadores daquilo que eram as nossas ideias e a forma de as pormos em prática. Os resultados mostraram que íamos no bom caminho. Hoje, todos se sentem bem, confortáveis na forma como o Castêlo da Maia joga e isso também ajudou a convencê-los”, explica o treinador.

“Quando nos saíram equipas da Elite no sorteio, disse-lhes que também ia servir para ver aquilo que valíamos. Entretanto, ganhamos, portanto, mostramos que não somos uma equipa qualquer, que temos qualidade. Agora só falta continuar para chegarmos lá, acho que podem olhar para isto como quem luta contra tudo e contra todos, porque têm qualidade para isso. O clube tem vindo a ganhar uma grande dinâmica, os jogadores vão para dentro do campo com muita responsabilidade. O grupo está muito unido e dão tudo uns pelos outros, é como no FIFA da Playstation: estão com os índices todos no verde e isso é fruto do trabalho desta equipa técnica. A chave do sucesso tem sido ver cada um lutar pelo colega dentro de campo”, sublinha o presidente Luís Marçal.

Apesar de tudo, o mister João Pedro não se embala quando se fala do Castêlo da Maia como “equipa-sensação” da Taça AF Porto. “Sinceramente, aceito isso pelos meus jogadores e pela equipa técnica que trabalha comigo, mas acho que temos mais para dar, tenho consciência disso”, argumenta o treinador. “Ele quer trocar o rótulo de equipa-sensação pelo de equipa sensacional, se conseguir subir… e o campeonato está ao alcance”, lembra o presidente. “Vamos fazer por isso”, retribui o treinador. “Mas isso de equipa sensação é muito relativo, porque tivemos na outra série desta divisão o São Lourenço do Douro, que esteve uma série impressionante de jogos (17) sempre a ganhar. Têm um treinador que conhece bem o clube e esta divisão, portanto isso confere-lhe uma certa vantagem. Mas não é sermos a equipa-sensação que nos traz alento, embora o reconhecimento seja sempre bom, porque há mérito de todos os que trabalham cá”, acrescenta ainda.

Aconteça o que acontecer, a temporada do Castêlo da Maia será sempre positiva. “Temos consciência que as coisas nem sempre saem bem, é normal, mas o que eles podem ter a certeza é que têm todo o nosso apoio, porque é impressionante nesta equipa é o espírito que vemos e a união.