Doutores da bola não poupam nas horas extras


Conciliar trabalho com futebol, no Mundo do futebol não profissional, nem sempre é fácil, para quem chega ao final do dia e ainda tem de ir “castigar o corpo” para o campo. Mas cumprir com as obrigações de quem abraça o desafio de tirar um curso superior tem tendência a ser pior, porque a um dia de aulas somam-se, quase sempre, horas intermináveis de estudo, muitas “diretas”, ou no mínimo algumas noites mal dormidas, para estudar para os exames, ou entrega projetos dentro dos prazos.

Conjugar tudo isso com os treinos regulares de uma equipa de futebol, para depois jogar ao fim de semana, é aquilo que vem acontecendo com a equipa B do FC Foz, cujo plantel é constituído na sua totalidade por 22 estudantes de faculdade. A equipa segue atualmente no segundo lugar da Série 1, da II Divisão da AF Porto, a cinco pontos do Pasteleira, que lidera, envolvidos na luta pelo melhor segundo classificado, que dá lugar ao apuramento para a fase de campeão.

Em termos de competitividade: tudo bem. Parece uma frase feita, mas Pedro Allen, avançado da equipa liderada por Francisco Espanha, resume tudo num abrir e fechar de olhos: “Com esforço e dedicação, tudo se consegue”. Dito assim, até parece simples, mas a verdade é que o estudante de arquitetura e capitão do FC Foz B, está em Guimarães a tirar o curso de arquitetura, o que acresce a dificuldade da deslocação. “São muitas horas extras, já foram algumas as noites em que fiquei acordado para fazer os meus trabalhos. Mas há também a questão financeira, que pesa. Felizmente, tenho possibilidades para isso e o Foz também me ajuda com o que pode, mas é verdade que não é fácil conciliar as duas coisas”, reconheceu.

No plantel contam-se cinco estudantes de desporto, arquitetura (1), engenharia (4), gestão (9), ciências da comunicação (1) e direito (2) e o FC Foz tudo faz para incentivar os jogadores a cumprir com as suas obrigações na faculdade. “Naturalmente, os estudos deles são fundamentais para o seu futuro e fazemos de tudo para que tenham sucesso. Mas acreditamos que devem encarar os estudos, o futebol, e a vida pessoal, exatamente da mesma forma”, explicou o mister Francisco Espanha.

Ninguém se mostra insensível às necessidades de quem precisa de falhar um treino por causa da faculdade. “Compreendemos que tenham de faltar e eles também compreendem que temos de ser justos com os outros colegas da equipa e que faltar pode ter consequências. Têm de ser capazes de gerir o futebol com a faculdade, mas é claro que já aconteceu pedirem para faltar por causa de um exame. É normal e há essa flexibilidade, percebemos as duas partes. Temos de ser compreensivos. Sabemos que a aposta deles na formação é grande e estamos aqui para ajudar, porque por vezes a organização não resolve tudo e há prazos de entregas e frequências, que não se compadecem com o futebol”, reconheceu o treinador.

“Com as deslocações que faço para treinar, são sempre três dias por semana em que não trabalho tanto como os meus colegas, que estão lá [Guimarães] e fazem os trabalhos da faculdade, porque vivem lá. Se não estivesse a jogar cá estaria muito mais focado lá e se calhar conseguia acabar as coisas ou fazê-las muito mais a tempo”, reconheceu Pedro Allen, que não vê nisso um drama.

Mas com a compreensão de uns e o sacrifício de outros, a verdade é que a equipa B do FC Foz tem conseguido bons resultados. A responsabilidade de todos tem ajudado a fazer a diferença. “Quando assumimos um compromisso devemos estar cientes das responsabilidades que o mesmo acarreta e isso tem-se verificado. Portanto, não vejo necessidade de sacrificar o que quer que seja em detrimento de algo. Até porque o desporto é uma forma de nos exprimirmos fundamental e crucial para o desenvolvimento de cada um”, acrescentou Francisco Espanha. “O futebol é, neste momento, o plano B, mas foi plano A durante algum tempo. Cheguei a ter essa esperança. Neste momento é mais certo que consiga algo com os estudos, do que com o futebol, embora ainda tenha essa esperança. Por isso é que também faço o esforço de vir ao Porto duas vezes por semana para treinar”, confessou Pedro Allen.

“É verdade que alguns não fazem do futebol uma prioridade e isso torna mais difícil conseguirmos um determinado nível de exigência, mas cabe ao treinador trabalhar isso, porque também temos exemplos de jogadores que estão na faculdade a 100 por cento e aqui a 200 por cento”, garantiu o treinador, que beneficia com o facto de alguns até juntarem o útil ao agradável. “Temos jogadores na área de desporto, já formados, alguns na vertente futebol, que até são treinadores-adjuntos no FC Foz e temos outro que é adjunto noutro clube”, finalizou.