Costuma dizer-se que o gesto é tudo e no caso de José Abreu, árbitro da Associação de Futebol do Porto, foram as explicações dadas aos jogadores mais pequenos e a atitude pedagógica que teve ao longo do jogo, que distinguiram a sua exibição no União Desportiva de Torrados-Varziela, da Liga Carlos Alberto, em Sub-9.
No final, os capitães das duas equipas pediram o cartão branco ao árbitro que recebeu as insígnias no passado mês de novembro, para lho exibirem. O clube da casa pediu autorização para publicar nas redes sociais o acontecimento e as reações não se fizeram esperar, até Duarte Gomes, antigo árbitro de futebol e atual membro do Conselho Nacional do Desporto, aplaudiu a situação.
José Abreu confessa que foi apanhado de surpresa, justificando a sua ação de uma forma muito simples: “O árbitro está ali para ajudar e explicar às crianças as regras de futebol. Porque eles não têm noção das regras e que os árbitros estão ali para que sejam postas em prática.”.
Esta afirmação do árbitro do Porto encaixa na necessidade que existe no futebol de mudar mentalidades e na noção de que essa é uma questão para começar a ser tratada na mais tenra idade. Mas tudo começou naturalmente assegurou José Abreu. “Conduzi o jogo normalmente, fui brincando um pouco com os miúdos, explicando-lhes as leis de jogo e como evitar os erros que cometiam. A interação com treinadores e delegados também correu bem e no final vieram falar comigo. Foi quando me pediram o cartão branco, que me exibiram. Não estava à espera”, partilhou.
Desta vez, José Abreu teve uma experiência diferente e garante que é tudo uma questão de educação. “Os pais deviam ter uma espécie de formação para respeitarem um jogo de futebol e não insultarem os árbitros. Ainda há dias, um dos delegados, que tinha sido expulso e foi para a bancada, passou o jogo todo a tentar condicionar a minha atuação. Percebo que alguns árbitros se sintam exaustos e acabem por abandonar a arbitragem, porque há muita falta de respeito. Não podemos errar uma única vez, a partir dali somos massacrados. Por isso digo que é tudo uma questão de educação e de mentalidade. Mas este jogo e este cartão branco são para recordar, ainda por cima num jogo em que tinha levado a minha família. Ainda fico mais orgulhoso”, comentou.
Mas a questão é recorrente e José Abreu nem se admira de nunca ter visto um cartão branco em jogos de seniores: “É uma questão de mentalidade, porque se critica a arbitragem, quando nós também temos noção que erramos e que isso vai continuar a acontecer. Mas quem está na bancada também devia tentar perceber que estamos ali para tentar cumprir as regras. Ainda no jogo de Sub-9, que apitei, houve um atraso para o guarda-redes que apanhou a bola com as mãos. Conversei com ele e expliquei que não podiam fazer aquilo assim e não marquei a falta daquela vez. As crianças estavam já muito maltratadas pelas condições de jogo e o público percebeu a minha iniciativa”.