“O Schwarzenegger diz que se temos um plano B ele vai distrair-nos do plano A”


Mohammad Reza tem 22 anos, é lateral-esquerdo da equipa B do FC Pedras Rubras, que disputa a I Divisão da AF Porto, e é apenas mais uma prova de que os campeoantos da Associação de Futebol do Porto são uma verdadeira Sociedade das Nações, com jogadores provenientes dos "quatro cantos do mundo". Aqui há espaço e oportunidades para todos, sem distinção de cor ou de religião e o iraniano está tão motivado que garante que não é só conversa, quando diz, desassombrado, que quer chegar ao mais alto nível.

A primeira prova que dá está na vontade de se tornar profissional e fazer carreira, que o levou a deixar o Irão com 16 anos. “Tem sido um grande desafio para mim. Todos os dias procuro trabalhar e empenhar-me ao máximo. Temos de ser determinados e focados para chegar onde queremos e é por isso que luto”, garantiu o lateral que também se adapta bem a extremo.

Reza assume totalmente o risco de correr atrás do sonho e jura que não tem outro objetivo de vida. “O futebol é a minha grande aposta, é a aposta de uma vida. Mas não tenho plano B. Quando estou em casa, nos meus tempos livres, costumo ler algumas biografias de pessoas de sucesso e sobre alguns exemplos de vida e o Arnold Schwarzenegger diz que se temos um plano B ele vai distrair-nos do plano A e que se não pusermos tudo o que temos no plano A, nunca o vamos concretizar. Temos de apostar sem medo, com toda a nossa fé e acreditar no nosso trabalho, sem deixarmos espaço para qualquer tipo de dúvida, que vamos alcançar o plano A.

Se tivesse um plano B, lá no fundo do meu pensamento, seria uma espécie de saída de socorro, porque iria permitir-me sair do caminho que tracei para alcançar o plano A, sem sentir tantos remorsos. Tenho fé, rezo, trabalho e sei que tenho de ter paciência, que tenho de saber esperar, porque nunca sabemos quando é que pode surgir o momento certo para darmos o salto”, disparou, quase num sopro.

Reza expressa-se num inglês praticado ao longo dos dois primeiros anos da sua estadia na Europa. “Não foi fácil deixar o meu país com 16 anos e ir para Londres. Tinha muitas saudades da minha família e dos meus amigos. Era tudo perfeito em Inglaterra, menos a solidão que senti em muitos momentos. Foi muito difícil adaptar-me. Primeiro havia a barreira da língua e depois o facto de ter de viver só e gerir a minha vida desde muito cedo”, contou. Ainda adolescente, o iraniano dividia o seu tempo entre os estudos e o futebol. “Estudava e jogava na academia de Wingate & Finchley. Nessa altura, cheguei a representar as seleções do Irão de Sub-15 e Sub-16”, acrescentou, antes de confessar que os primeiros tempos foram tudo, menos fáceis: “Nos primeiros seis meses nem sequer jogava, só trabalhava os índices físicos, porque o futebol na Europa é muito rápido comparado com o estilo a que vinha habituado do Irão. Tinha um Personal Trainer no campo e outro no ginásio. O futebol que se praticava era à base de força e contacto, o que não me favorecia nada. Foi um choque para mim. Tive de trabalhar muito fisicamente para conseguir entrar na equipa Sub-18 da academia Wingate & Finchley”.

Aos 18 anos, a vida de Reza tomou outro rumo. “O meu visa de estudante acabou e como não consegui assinar contrato profissional para ter direito ao visa de trabalho, tive de deixar Inglaterra e foi aí que optei por vir tentar a sorte em Portugal”, contou. A primeira porta que se abriu foi a do Lusitânia de Lourosa. “Vim para Portugal com 19 anos, para jogar no Lusitânia de Lourosa, onde estive 6 meses. Depois saí para o Marítimo, integrei a equipa Sub-23 e joguei lá época e meia. No ano passado, por causa da pandemia, o meu pai pediu-me para ficar no Irão, com a família. Estive uma temporada sem jogar e esta época voltei para vestir a camisola do FC Pedras Rubras”, resumiu, antes de voltar à carga: “O meu sonho é conseguir chegar à I Liga e jogar na Champions, um dia, é para isso que trabalho.

Taremi como exemplo

 

Quando olha para Taremi, é em Portugal que o defesa iraniano quer alcançar o sonho e não se contém: “Vejo nele um exemplo daquilo que posso alcançar, um dia. Mostra e prova aos iranianos, que é possível conseguir brilhar na Europa. Aliás, como o Sardar Azmoun, que deixou o Zenit para assinar pelo Bayer Leverkusen e se tem destacado no ataque, ou o Saman Ghoddos, que também se tem mostrado no Brentford. São todos eles exemplos de que os futebolistas iranianos têm qualidade e conseguem concretizar os seus sonhos. Para mim são a prova de que é possível e que só tenho de continuar a insistir, sem nunca desistir daquilo que quero”. Hoje, Reza vê no futebol português um estilo mais adequado às suas características, ao contrário da experiência que teve em Inglaterra. “Gosto do futebol português, porque é mais técnico. Aqui o treinador procura pôr os jogadores a jogar à bola, não é como em Inglaterra em que aquilo era uma luta constante, com imenso contacto físico e força. Aqui os treinadores procuram ter bola e jogar bem, com passes e movimentos trabalhados, o que é mais do meu agrado”, explicou.

Carlos Queiroz como um revolucionário

 

Habituado a ver regularmente o futebol português nas televisões iranianas, Reza lembrou o papel decisivo que Carlos Queiroz desempenhou enquanto esteve à frente da seleção. “Em 8 anos na seleção, levou-nos duas vezes consecutivas a um Mundial, coisa que nunca tinha acontecido antes. Foi um selecionador que melhorou imenso o nível dos nossos jogadores, sobretudo a nossa capacidade defensiva. Deu mais confiança aos nossos atletas e trouxe uma mentalidade diferente. Ele levou o futebol iraniano a acreditar mais nas suas qualidades, a ter a confiança necessária para rivalizar com os outros e a serem mais positivos na abordagem dos jogos. Ainda hoje ele é uma personalidade muito importante no Irão. Os adeptos adoram-no por causa de tudo aquilo que fez por nós e pelo futebol iraniano”, rematou.