60 atletas de cada escalão e dois torneios para mostrar talento


O 34.º Torneio de Natal Sub13/14 foi o pretexto para conversarmos com Sérgio Ribeiro, coordenador de futebol da Associação de Futebol do Porto, que marcou presença na competição com duas equipas. Com os olhos postos no Torneio Lopes da Silva, agendado para o próximo mês de junho, este foi o primeiro passo para avaliar com que fios as equipas da associação se vão coser na competição. “Este é o primeiro contacto com um contexto de seleção que estes atletas vão ter. Temos uma base de observação de cerca de 60 jogadoresde  Sub13 outros 60 de Sub14. Temos cerca de 20 de cada equipa aqui presentes e na Páscoa, num segundo torneio organizado pela Associação de Futebol de Braga, vamos chamar outros jogadores para observar num contexto semelhante. Assim, vamos filtrando os valores que temos, para juntarmos os 18 que queremos levar ao Torneio Lopes da Silva”, explicou o coordenador.

Dito isto, o técnico da AF Porto levantou um pouco o véu sobre a fórmula com que se trabalha a este nível. “A nossa forma de trabalhar, é diferente do trabalho que se desenvolve ao nível dos clubes. Temos o nosso modelo de jogo e as nossas ideias muito bem definidas, mas claro que ano após ano, tendo em conta as características dos jogadores, tentamos que eles saiam valorizados, tenham prazer no jogo e coloquem as suas características em evidência no jogo. Queremos deixá-los desfrutar, sem pressão. Embora na Associação do Porto estejamos habituados a jogar para ganhar, não a todo o custo, mas a verdade é que os jovens estão habituados a isso nos clubes, o que também é benéfico para eles ter a ambição de querer ser melhor em relação ao adversário e a cada lance que desenvolvam, para que mostrem cada vez mais competência e evoluam”, explicou.

Detetar valores emergentes está longe de ser um trabalho a curto prazo, envolve toda uma rede de scouts e treinadores, dados compilados e uma observação quase permanente, porque a evolução dos atletas tem o seu ritmo particular e não acontece como quem liga um interruptor. Longe disso. “Há uma continuidade nas nossas observações. No início de cada época, falamos com os coordenadores de cada clube para perceber em que ponto estão os jogadores e se evoluíram, depois de terem passado por cá. A nossa equipa técnica tem pessoas de vários pontos do distrito e desenvolvemos contactos com treinadores que nos dão informações. Temos uma rede muito bem montada. No entanto, tendo em conta os milhares de atletas que temos, definimos um critério de seleção, como o nível competitivo em que se enquadram, classificações, épocas individuais e coletivas e depois fazemos a escolha. Felizmente, na nossa associação poderíamos fazer mais do que uma seleção com valor, porque existem muitos jogadores”, contou Sérgio Ribeiro.

Para reduzir as probabilidades de ver o filtro de talentos deixar alguém pelo caminho, foi desenvolvida uma estratégia que proporciona novas oportunidades a atletas em patamares diferentes da sua evolução ao longo da formação. “Começamos com os Sub13 e os Sub14, e a partir dali, começam a ser chamados pelas seleções nacionais. Mas ainda temos o Torneio Sardoeira Pinto, na Póvoa, na Páscoa, onde não chamamos internacionais Sub17, precisamente para dar hipóteses a jogadores que não conseguiram integrar as seleções nacionais numa fase inicial, para lhes dar mais uma oportunidade, porque entendemos que possam não ter dado o salto maturational nos Sub13, por exemplo, ou que ainda não tinham tido a oportunidade de vir a uma seleção distrital”, explicou.

“Mas entre os Sub13 e Sub16 continuam no nosso radar, digamos assim, bem sinalizados. Já aconteceu que alguns não se tivessem manifestado até aos Sub14 e depois apareceram nos Sub17, porque evoluíram, entretanto. Nesse torneio Sub-17 de Páscoa, convidamos os técnicos nacionais a fazer uma nova observação, pelo que têm ali mais uma oportunidade para escolher, porque sabemos que em alguns casos o talento está lá, porque foram jogando e evoluindo ao longo dos anos de formação. Mas estamos sempre disponíveis para fornecer informações complementares à federação sobre os atletas que pretenderem”, acrescentou ainda Sérgio Ribeiro. A título de exemplo, o coordenador de futebol da AF Porto apontou o jogo com a seleção da Associação de Futebol de Viana, que a seleção Sub13 do Porto tinha acabado de vencer: “Hoje defrontamos aqui uma equipa de Viana, que mostrou uma equipa com qualidade, que pode evoluir, porque os seus atletas não se desfaziam da bola de qualquer forma, havia princípios e no futuro, se continuarem a insistir com eles, se calhar, poderemos estar a falar de outro tipo de jogador daqui a dois anos, por exemplo”.

Numa conversa sobre formação, inevitável era abordar os efeitos da pandemia num processo evolutivo, que requer um trabalho a longo prazo para dar os seus frutos. “A pandemia veio estagnar um pouco o trabalho dos atletas e das seleções, mas vamos retomar aos poucos e recuperar o ritmo que tínhamos há dois anos. Temos de recuperar o que ficou para trás, queremos evitar a paragem das competições e levar os clubes a retomar e a terem consciência da importância de reativarem a atividade física. Mas notamos a diferença, em termos motores, em termos de jogo, de concentração e disponibilidade para jogar de uma forma natural. Nota-se que ainda o fazem em esforço. Agora vamos ver se não para outra vez”, finalizou.