“Aqui ninguém joga por uma sande de queijo!”


O Maia Futsal Clube é um clube muito particular no panorama da Associação de Futebol do Porto, fundado recentemente e com uma mentalidade distinta da generalidade dos clubes. Desde 2017, data em que nasceu, os seus dirigentes assentaram o emblema maiato num investimento em capital humano competente para organizar e estruturar o clube, criaram um departamento médico e técnico de alto nível, trabalharam a comunicação, criando uma imagem de marca forte, e tudo isto graças a um investimento financeiro apoiado pela Câmara Municipal da Maia e à angariação de patrocinadores para construir equipas cada vez mais competitivas.

Os resultados de tudo isto estão à vista. “Ainda temos imenso para fazer e para crescer, mas em cinco anos isto fez com que já tivéssemos ganho todos os títulos da Associação de Futebol do Porto, no Futsal, com exceção da Taça. Vencemos duas taças nacionais em masculino e feminino. Temos a nossa equipa sénior feminina na II Divisão Nacional e nesta altura é mesmo uma das principais candidatas à subida à I Divisão Nacional. Tivemos o infortúnio dos nossos seniores masculinos terem descido à III Divisão Nacional, na época passada, mas temos todos os nossos escalões de formação, com exceção dos Juvenis, nas divisões de Elite. Na próxima época, teremos muito provavelmente, uma ou duas equipas da formação nos campeonatos nacionais. Tudo, repito, em cinco anos”, resumiu Bruno Magalhães, presidente do clube.

As mudanças que o Maia FC trouxe à forma como era gerido o futsal tiveram repercussões desde o início. “Uma vez entrei num pavilhão e ouvi a frase, “vieste dar cabo disto tudo!” Perguntei porquê e responderam-me que a partir do momento em que o Maia FC começou a pagar no distrital, os outros também tiveram de o começar a fazer. Mas eu pergunto: se as autarquias subsidiam os clubes, se até pagam as inscrições, no caso da Maia, à exceção dos seniores, para onde ia esse dinheiro? Nós, Maia FC, juntamos tudo aquilo que eram apoios ou dinheiros angariados pelo clube sob a forma de patrocínios e canalizamos tudo para quem nos representa. Nunca quisemos que os nossos jogadores seniores nos representassem sem receber, pelo menos, uma ajuda de custo. Noutros clubes jogavam em troca de uma sande de queijo, mas aqui a nossa filosofia é diferente, ninguém joga por uma sande de queijo. Os nossos patrocinadores também querem chegar a divisões superiores, portanto, não podemos escamotear que os melhores não jogam por amor à camisola, muito menos por um clube que tem cinco anos. Depois, um jogador sénior não pode ter um custo para vir treinar. Se representa ao clube, o mínimo que podemos fazer é pagar as ajudas de custo”, argumentou.

Claro que quanto mais alto se aponta, mais difícil se tornar lá chegar. “O Maia FC tem cada vez mais peso, embora recente, mas a Maia enquanto território desportivo tem imenso peso. Toda a gente acredita, município, associação e federação, que o Maia FC tem estrutura para continuar a subir. Se alcançarmos a I Divisão Nacional no futsal feminino, teremos lá chegado vencendo a Taça Nacional, sendo campeões da Elite e estando duas temporadas na II Divisão Nacional. Acredito, até pelo investimento que foi feito, que é mesmo possível alcançar a I Divisão, pelo menos somos candidatos, a par do Atlético, da zona Sul”, explicou ainda, acrescentando que por esta altura a bola estará até nas mãos da autarquia para ajudar o clube a dar os passos seguintes. “A primeira fase de crescimento foi a mais fácil, digamos assim. Daqui para a frente será mais difícil, porque é mais competitivo e fica muito mais caro. Mas há algo que nos falta – embora haja um compromisso da autarquia – que é arranjar um pavilhão exclusivo. Também é bom que se diga, para não falarem em favorecimentos, que não tendo os anos de história dos nossos vizinhos, temos o triplo, ou mais, de atletas e mais títulos do que a maioria deles. Pelo que esse pavilhão é importante, porque nenhum clube cresce, se não tiver condições de treino dignas”, vincou o presidente maiato.

O discurso de Bruno Magalhães não é reivindicativo, pelo contrário: “Aquilo a que a Câmara Municipal da Maia nos habituou é que nunca nos abandona e que é um parceiro do qual estamos gratos. Mas também nos foram dizendo que aquilo que nós temos de fazer é fazer por merecer determinada distinção e aquilo que temos vindo a fazer é crescer de tal forma que a Câmara não tenha outro caminho que não seja dar-nos aquilo que merecemos. Se chegarmos à I Divisão Nacional, no feminino, sendo um campeonato televisionado, não haverá volta a dar”.

A dimensão do Maia Futsal Clube deixa poucas dúvidas, quando se olha para os números. “Somos, desde o nosso terceiro ano de atividade, o maior clube de futsal da Associação de Futebol do Porto e estamos entre os cinco primeiros nacionais, em número de atletas. Esta época, com as inscrições ainda em aberto, já temos 173 atletas, repartidos por 14 plantéis inscritos. Não há paralelo no país. Até equipas C podíamos fazer em alguns escalões”, revelou.

Mas quando se fala numa mentalidade nova, o presidente do Maia FC acrescenta mais alguns aspetos. “Outra coisa que nos distingue é o facto de todos os atletas pagarem uma mensalidade. Se tenho gente licenciada, que vive do desporto, têm de ser pagos. Instituímos uma mensalidade e equipamentos pagos por fora, até aos juvenis. A partir daí, o clube devolve esse valor aos jogadores, acarretando todos as despesas que decorrem da prática desportiva. Até lá, se estou a formar pessoas e atletas eles têm de pagar. Pergunto, como é que um clube que cobra mensalidade tem cerca de 200 atletas? Simplesmente, porque quando se investe em capital humano para se ter qualidade, não temos de ter medo. Paga-se pela qualidade. Até nisso somos pioneiros. Mas pagam, porque se vê a evolução dos atletas, porque se forem para um ginásio pagam, ou para o futebol também pagam. Isto para desmistificar a ideia de que o futsal é um desporto de bairro, que se joga num rink, por quem não consegue ir para o futebol. Já não tem nada a ver com isso, porque é a modalidade, atualmente, que mais títulos internacionais tem dado a Portugal!”

Para Bruno Magalhães e para os dirigentes do Maia FC, o sucesso do clube é encarado com naturalidade e tem explicação. “Reunimos, desde a direção ao corpo técnico, pessoas altamente qualificadas em termos de desporto e gestão. Mais de 90 por cento são licenciados, os gestores do clube são gestores de organismos públicos, ou empresas privadas com alguma dimensão. Estas pessoas trouxeram conhecimento para percorrermos o caminho que pretendíamos, porque o problema de uma grande parte dos outros clubes existentes, com décadas de história, é que ficaram parados no tempo, porque não investiram em capital humano.

O presidente de um clube não pode ser eleito porque é o empresário que tem dinheiro, ou tem disponibilidade para estar na sede. Esse paradigma que ainda persiste em dezenas de clubes da nossa associação tem de acabar. Não estou a dizer que temos de nos tornar profissionais, porque isto não dá para isso, mas temos de nos tornar o mais profissionais possível. Se não for assim não temos sucesso”, apontou.

Por último, o presidente do Maia FC lembrou que há outros fatores têm contribuído, como o apoio da Federação Portuguesa de Futebol e não só: “A Associação de Futebol do Porto tem de ter o máximo dos seus clubes nas divisões superiores e tem de ajudar e estar ao lado de quem tem condições para lá chegar e é isso que temos sentido. Eles têm-nos apoiado, têm sido inexcedíveis naquilo que lhes é solicitado por nós e mesmo no que não lhes é solicitado, porque percebem que têm de ajudar, portanto, também têm sido um parceiro extremamente importante para o Maia FC”.